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sexta-feira, 25 de junho de 2010

Esse triste fado

Artigo de opinião de Carla Carvalho, membro da coordenadora da concelhia, publicado no jornal 'Povo de Guimarães':
É o que se conta dos portugueses: que são um povo afável e hospitaleiro, que transpiram saudade, que é um país de poetas onde se canta o fado. Canta-se uma sina triste e resignada, de quem aceita e se molda às desventuras.

Triste fado o nosso. Ainda ontem ouvia mais um, desse fadista que ainda há dias dava um pezinho de dança, um compasso do tango: Passos Coelho defendia mais um conjunto de medidas de precarização do trabalho, mais um atentado aos direitos dos trabalhadores . É impressionante como essa sigla - PEC - tem sido capaz de convencer as pessoas, como se de uma inevitabilidade se tratasse. E muito tem sido feito para convencer as pessoas de que, de facto, a única forma de combater a crise em que o sector financeiro nos colocou, é através do trabalho e do esforço do povo. O PEC não é mais que um conjunto de medidas que visam a manutenção do status de gestores, banqueiros e accionistas, feita à custa do empobrecimento e penalização dos trabalhadores. O cumprimento de uma agenda de Direita perpetrada em Portugal pela aliança sagrada dos bailarinos.

E mentem-nos quando nos tentam vender a ideia de que os sacrifícios são distribuídos igualmente por todos, quando nos falam de um esforço a que chamam patriótico. E a que eu chamaria de uma desfaçatez tamanha! Porque estas medidas fiscais não são justas, penalizam mais quem ganha menos, e quem já vem sendo, desde sempre e ao longo dos tempos, penalizado. O justo e sensato não seria obter a receita do lado onde há maiores rendimentos? A verdade é que é possível combater a crise pelo outro lado: o dos detentores do capital. Mas esse permanece incólume e intocado! Porque somos nós, o povo trabalhador, a trabalhar para pagar a crise em que eles nos colocaram.

Pior que isto é saber que estas medidas não só não vão acabar com a crise, como a vão agravar. Cortes nos salários e anulação do investimento público traduzem-se em mais desemprego e, por conseguinte, menor poder de compra. Ora se não há quem compre, quem produz entra em colapso: as empresas serão conduzidas aos despedimentos, resultando em mais pobreza. Pescadinha de rabo na boca, portanto!
É um ciclo vicioso. Este PEC não é mais que um conjunto de medidas que nos impinge a pobreza e cujo resultado será ainda mais pobreza. E nós sabemos que é possível inverter este ciclo. Sim, mas isso implicaria tocar nos intocáveis, naqueles que a Direita e a “Esquerda” PS procuram a todo o custo proteger.

E, o mais grave, é que este estado de coisas é usado para promover medidas que acabarão por afectar negativamente quem hoje, de ânimo leve, as aceita em qualquer conversa de café. Os partidos de direita estão a travar uma batalha no sentido de colocar trabalhadores contra desempregados, promovendo ódios baseados em visões parciais dos problemas. Propõem cortes na protecção social que, mais cedo ou mais tarde, acabarão por afectar os que sendo agora trabalhadores, passarão mais cedo ou mais tarde à condição de desempregados, pois assim o dita este PEC de desemprego e desprotecção.

A alternativa? Vencer esta propaganda do medo que nos pede que aceitemos os sacrifícios em nome da estabilidade. Uma alternativa de sucesso construída com base nos contratos de trabalho, no salário justo, na redução de precariedade e na defesa da segurança social, como forma de combater a crise, aumentar a procura e relançar a economia. Uma alternativa com base na justiça social. Um povo que não vá em cantigas.

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