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quarta-feira, 28 de abril de 2010

25 de Abril Sempre!


Intervenção do eleito municipal Joaquim Teixeira, na Sessão Solene evocativa do 25 de Abril.


No dia 25 de Abril de 74, estava eu no nordeste da Guiné e como as notícias demoravam a chegar, aquele dia foi, para todos nós, igual a todos os outros. No início da madrugada de 26, estando de serviço na condição de radiotelegrafista e tendo em conta o pouco transito, sintonizei, num rádio antigo que estava fora de serviço, a emissora nacional, coisa que fazíamos todos quando no turno da noite. No início, comecei por estranhar o tipo de música, Zeca Afonso, Sérgio Godinho e outros, até à uma hora, altura em que davam o noticiário. Aí começou tudo! Dois colegas meus, saíram disparados a dar a notícia e em poucos minutos, ninguém dormia naquele quartel e toda a gente se plantou à porta do posto de rádio, esperando a confirmação do “boato”. Não foi preciso esperar muito para ouvir um comunicado do Movimento das forças armadas, relatando o evoluir da situação que todos conhecem.

Primeiro a surpresa, depois a explosão e os gritos de viva a liberdade e acabou a guerra! Depois de assimilar o que tinha acontecido, várias esperanças nasceram. A primeira tinha a ver com o fim da guerra colonial na qual morreram milhares, muitos deles, ainda hoje, esquecidos e abandonados em África. Grande parte dos que regressaram, ainda sente os traumas causados por essa guerra.

Quando, passados quatro meses, cheguei à “Metrópole”, vi um país transfigurado e um povo que procurava o caminho mais curto para recuperar o atraso em que o tinham deixado, não só a ditadura, mas séculos e séculos de obscurantismo. No meio de toda esta transformação, nem sempre através dos meios mais correctos, havia um poeta que cantava: Só há liberdade a sério, quando houver paz, pão, habitação, saúde e educação. É isso, pensava eu e como eu, pensavam muitos mais a quem me juntei no sentido de dar corpo ao ideal.

Fez-se a constituição, realizaram-se as eleições legislativas e por fim, as autárquicas. Com mais ou menos turbulência, os órgãos democráticos estavam instalados e Portugal tinha todas as condições para recuperar o terreno perdido. O fim da guerra, o salário mínimo nacional, o serviço nacional de saúde, as campanhas de alfabetização, a habitação social, formava a base de apoio que dava aos idealistas a esperança de um país melhor.

O sonho porém, durou cerca de uma década. Aprendemos e cada vez mais sentimos na pele que na mira de um sonhador, há sempre um reaccionário, alguém que se sente com mais direitos e direito a mais que os outros e usa de todas as artimanhas, lícitas ou ilícitas para o conseguir. Em meados dos anos oitenta, coincidindo com a entrada de Portugal na, então CEE, chega ao poder aquele que foi um dos coveiros dos ideais de Abril, sucedendo aos que tinham metido o socialismo na gaveta. Apresenta-se ao povo como um Dom Sebastião e, aproveitando o que alguns definiam como carradas de dinheiro, vindo da Europa, há que fartar vilanagem.

Cimento e asfalto, aqui vamos nós. Foi a época de ouro para alguns, empreiteiros e subempreiteiros construíam a torto e a direito. Nas últimas décadas assistimos à degradação da sociedade em todos os aspectos. Submetendo-se aos grandes interesses internacionais, deteriora-se o aparelho produtivo. Abandona-se a agricultura e a pouca que resta vai servindo para alguns tirarem as fotografias com que enganam o povo. Boa parte daquele que era chamado o celeiro de Portugal, transforma-se em coutadas de caça. Nas pescas, estamos ao nível de qualquer país do terceiro mundo, qualquer dia nem temos capacidade para pescar uma faneca.

Entrou-se na loucura das privatizações! Para os apologistas deste modelo de sociedade, não há meios-termos: Basta uma pequena expectativa de lucro e, como abutres, aparecem de todo o lado exigindo privatização. Privilegiando este modelo de governação em que se louva aquele que consegue levar um processo até à prescrição ou o que arranja sempre um sobrinho, um compadre ou um cunhado para disfarçar desvios de toda a ordem, o resultado está à vista: Trinta e seis anos depois de Abril, não temos um modelo de educação, porque ao invés de investir num sistema público, fomenta o ensino privado elitista e discriminatório.

O S.N.S. desgasta-se e desqualifica-se continuamente, enquanto clínicas e hospitais privados aparecem por todo o lado. Entre desempregados, precários e falsos recibos verdes, conta-se mais de um milhão de trabalhadores. Pobres ou no limiar da pobreza, são mais de dois milhões e devia fazer corar de vergonha quem advoga este modelo de sociedade. Perante a denúncia de todos estes problemas, dos responsáveis e seus cúmplices, estes argumentam com sectários, radicais, inimigos da iniciativa privada e outros adjectivos. Argumentos sem fundamento uma vez que a iniciativa privada, enquanto honesta e cumpridora das suas obrigações, não é o alvo destas denúncias.

O cancro da nossa sociedade está no corporativismo que se monta para dar a alguns aquilo que é de todos. Os responsáveis por esta situação, cúmplices dessas autenticas aves de rapina que volteiam sobre tudo o que cheira a lucro, a história não os esquecerá. Hão-de ser lembrados como vampiros, que passaram a vida a sugar aquilo que o povo tem de mais valioso: A sua dignidade!

Resta-nos a esperança de que as gerações futuras, libertas do medo e do obscurantismo, aprendam a respirar liberdade e, sendo ele empresário, governante ou operário, olhe para o seu vizinho com o respeito que lhe é devido.

Viva o 25 de Abril!

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